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Hino Municipal

HINO MUNICIPAL DE JAGUARUANA

I
Na corrente do verbo aumentar
Os teus filhos estão sempre a clamar
Sob a paz deste céu cor de anil
Construindo o Brasil
O Ceará também fica mais forte
Com o apoio do teu grande porte.

REFRÃO

Jaguaruana, Jaguaruana,
Tu nasceste, nasceste de pé
Jaguaruana, Jaguaruana,
És a flor das cidades, és a glória
Tua bandeira, nosso símbolo
Nossa alma, nossa vida, nosso amor
És a pátria, mãe querida
Nosso berço, nosso escudo, nossa luz.

II

Nos teus campos o branco se agita
No teu seio a cultura se evolui
Na tua margem, no espelho das águas
A visão de um novo mundo
Tuas palmeiras que o vento balança
E tuas redes são nossa esperança.

REFRÃO

Jaguaruana, Jaguaruana,
Tu nasceste, nasceste de pé
Jaguaruana, Jaguaruana,
És a flor das cidades, és a glória
Tua bandeira, nosso símbolo
Nossa alma, nossa vida, nosso amor
És a pátria, mãe querida
Nosso berço, nosso escudo, nossa luz.

Letra: Eduardo Alberto de Holanda
Melodia: Eduardo Alberto de Holanda



A célebre composição do nosso hino deveu-se ao ilustre maestro Eduardo Alberto de Holanda na década de 1990. Nós o entrevistamos para conhecer um pouco mais desse ilustre personagem.





Filho de Itaiçaba, o maestro Eduardo Alberto de Holanda é músico profissional, primeiro maestro regente da Banda de Música do nosso município. Autor de mais de 350 composições dentre vários estilos musicais, também é o autor de hino da cidade de Jaguaruana.

Conheça um pouco de sua história.

Memórias de Jaguaruana: Primeiramente queríamos saber onde e quando o senhor nasceu.

Maestro Eduardo: Eu nasci em Itaiçaba. Em 30 de outubro de 1947.

Memórias de Jaguaruana: Como o senhor se envolveu com a música?

Maestro Eduardo: Naquela época eu morava em Itaiçaba com 12 anos por aí. Eu conheci uma pessoa, José Bernardo, e ele me ensinava música, passei algum tempo estudando com ele, depois ele disse: ‘Aqui não tenho mais nada pra lhe ensinar. Você tem que procurar outro caminho’. Aí eu fui pra Fortaleza e fiquei nas corporações do 23º BC por mais de um ano e fiquei também na Polícia Militar por dois anos e dois meses.
No 23º BC fui com a ideia de ingressar na banda de música, porque um amigo meu, que era sargento, achou que com o potencial que eu tinha eu poderia ficar. Eu fiquei lá mais de um ano estudando com um professor militar esperando o concurso. Quando chegou a época, passou uma circular desmarcando o concurso e que não tinha data certa pra acontecer. Naquela época eu tinha 22 anos. Aí vim embora pra Itaiçaba.
            Depois de uma temporada em Itaiçaba, voltei para Fortaleza. Voltei para a Polícia Militar, passei mais de dois anos. Eu era civil estagiário na Polícia Militar, ficava lá, estudava, mas não dormia no quartel. Eu tinha a formação musical, estudava todos os dias dentro do quartel. Eu já tinha 29 anos e 6 meses e não poderia ser incluído na turma, só era até 29 anos.
Voltei para Itaiçaba, constitui família e comecei a trabalhar nas escolas. Teve uma pessoa que acreditou em mim e me deu a primeira oportunidade de trabalho.  
            O que eu aprendi nessas duas oportunidades me deu a segurança para o trabalho. Foi assim então minha aproximação com a música sempre desempenhado tocando o instrumento nas solenidades. Aí quando tinha alguma coisa me chamavam, eu sempre tinha cuidado para fazer o melhor procurando dar de mim o melhor. Eu era bem aceito pelas pessoas porque nunca bebi, nunca fumei, não tinha nenhum vício de qualidade nenhuma. Então aquelas pessoas tinham prazer de me ajudar porque eu era uma pessoa que tinha vontade de crescer não tinha nenhum defeito nisso.
             
Memórias de Jaguaruana: Quais eram os instrumentos de sua preferência? 

Maestro Eduardo: Ah, quando a gente chegava para estudar música, aprendíamos pela necessidade que o maestro daquela escola tinha, ele dizia o instrumento. Aprendi vários, mas quando eu tive a oportunidade de escolher um instrumento eu me especializei, me tornei profissional, fiz a prova da Ordem do Músicos do Brasil e passei a ser um trombonista profissional. Eu me dediquei a ele e só a ele. Eu vim conseguir entender, aprender outros instrumentos quando tive que ensinar, então eu desempenhava em outros.
Hoje não toco mais, quando resolvi parar eu estava no auge, quando eu era procurado. A minha maneira de tocar era diferente de todos os outros. Meu trabalho era reconhecido, só tocava muito caro, por hora. Então eu tinha que estudar muito, todo dia em casa eu estudava em torno de oito horas no mesmo instrumento. Eu tinha que aprender a técnica nele, mas também o que chamamos de “rojão”, saber quantas horas eu aguentaria tocar nele. Até que cheguei ao ponto de tocar o dia inteiro, sair quatro horas da manhã e voltar dez horas da noite tocando em cima de um carro. Isso pra mim era normal.
            Eu era magrinho e pequeno, mas isso é que me ajudava. Se eu fosse gordo e alto, não teria pique pra ficar em pé muitas horas. Tanto fazia me chamar para tocar três, quatro ou oito horas. Então eu combinava com o dono da festa, se eram quatro horas eu tinha meia hora de intervalo por direito. Daí eu tocava três horas e meia de uma vez e pronto, terminava ia pra casa. Era uma maneira de ganhar mais, porque o dono da festa dizia que o pessoal estava gostando, então eu dizia agora é mais uma hora, patrão. E assim eu ia ganhando. Depois fui ensinar em escolas de música.
 



Memórias de Jaguaruana: Como o senhor se tornou maestro?
Maestro Eduardo: Bom, para uma pessoa se tornar maestro é preciso, antes de tudo, ter convivido com bons maestros, bons professores. Maestros que tem bagagem e conhecimento e te ensinam o que é o trabalho que se tem a fazer. Tive um professor de Pernambuco, sargento Valença, e ele me ensinava como eu fazer e como fazer com meus alunos. Ele me mandava repassar pra ele com segurança. Sabe o que é pegar um giz e dar uma aula para tantas pessoas ali presentes?
Então essa boa prática com bons maestros, que acho que passei por uns oito ou dez, fez com que eu aprendesse. Hoje muitos maestros das escolas de música

pegam as coisas da internet e copiam, no nosso tempo não tinha isso. Lembro de estar trabalhando na Escola de Música e íamos fazer uma apresentação de bandas na Praça do Ferreira em Fortaleza, e o Marcos Almeida me disse maestro, eu quero a música do filme Ghost. Eu nunca tinha sequer ouvido. Ele arranjou a música, me deu. Fui escrevê-la, fazer um arranjo, colocar pra banda.
Um bom maestro não deve ensinar apenas música, o maestro é um espelho. Ser maestro não é tão fácil como aparentemente as pessoas pensam, é muito complicado. Sempre dizia a meus alunos: ‘queira ser hoje um pouco mais do que ontem, não queira ficar na mesma coisa.’


Memórias de Jaguaruana: Sobre sua passagem na Escola de Música Raimundo Corrêa, como o senhor se tornou o primeiro regente?

Maestro Eduardo: Quando eu estava trabalhando em Palhano, o prefeito da época era o Raimundo Francisco que queria fazer uma escola aqui. Tinha uma pessoa, o pai do Max, seu Oswaldo, que me conhecia e sabia que eu estava trabalhando em Palhano, ele foi lá e me trouxe até o Raimundo Francisco. Me apresentou e disse esse: ‘é a pessoa para fazer o trabalho aqui, fazer uma banda de música.’
O prefeito me perguntou: ‘o que você precisa pra fazer uma escola de música?’ Eu preciso de alunos. Como vamos adquirir esses alunos? Vamos às escolas, conversar com alunos, levar a proposta. Então dentro de três dias nos reuniríamos com esses alunos no Correia Lima. Quando vi a quantidade de alunos, pensei agora me acabo. Era aluno demais, sabe?
Mas mesmos assim, sabe o que fiz? Não deixei voltar ninguém. Separei os horários. Com aquilo fui ensinando e fui tirando os alunos melhores para fazer o trabalho mais elevado. Aquele trabalho fazia com que os outros estudassem também pra poder chegar lá, foi minha estratégia.
Raimundo Francisco era muito interessado em música, mas não andava lá. Ele entrou na escola de música depois de mais de seis meses. Ele não queria atrapalhar em nada os alunos. Todo o apoio era dado, tudo que precisávamos. Foi indicado para trabalhar comigo um coordenador para levar as coisas ao prefeito, tudo que precisássemos, de quinze em quinze dias tínhamos reunião com o prefeito, esse era o Raimundo Sérgio.


Memórias de Jaguaruana: Sobre o hino municipal. Conte-nos como foi o início e de quem foi a iniciativa.

Maestro Eduardo: Olha, hino municipal é uma coisa que tenho comigo, aliás tenho muitas composições por aí. Quando eu chegava para trabalhar numa cidade eu chamava uma pessoa de mais conhecimento e perguntava como era o hino da cidade. Espantadas até diziam não saber o que era e nem para que servia. Então eu fazia o hino.
            Quando cheguei aqui não conhecia nada de Jaguaruana. Chamei a professora Cleonice e perguntei das melhores coisas daqui, o que se faz, como é... Depois de três ou quatro dias já estava com tudo isso na cabeça. Numa música tem que ter introdução, desenvolvimento e fechamento.
            Comecei com ‘Na corrente do verbo aumentar / Os teus filhos estão sempre a clamar / Sob a paz deste céu cor de anil / Construindo o Brasil, a primeira parte está pronta, mas só isso não resolve. Continuei O Ceará também fica mais forte / Com apoio do teu grande porte’. A letra continua e isso eu fiz de noite, quando o dia amanheceu mostrei pro Raimundo Sérgio.
 
Memórias de Jaguaruana: Nessa hora a sua preocupação era a letra, né?

Maestro Eduardo: Não! Já a música feita. Eu faço as duas coisas ao mesmo tempo. Então de manhã mostrei para Raimundo Sérgio, rapidamente fomos mostrar ao Raimundo Francisco. Na mesma semana entrou para a câmara dos vereados e foi aprovado.

Memórias de Jaguaruana: De onde veio a inspiração?

Maestro Eduardo: Sempre quando chegava em uma cidade eu queria logo fazer o meu nome, assim com uma força, daí fazendo o hino da cidade eu estava em altos degraus. Aquilo me dava um status, ainda hoje tem isso, se não fosse você não estaria me perguntando por ele [risos]. Mas a inspiração que tive para fazer o hino de Jaguaruana, como de Baraúna, no Rio Grande do Norte, de Palhano como tantos outros e tem canto que eu nem sei. De modo que a inspiração foi aquele desejo de chegar e ‘impor aquela moral’ de fazer um hino para cidade que já tinha cem anos de idade e sem hino. Mas tudo isso porque tínhamos uma veia musical dentro da gente que dava o direito de fazer isso.
Memórias de Jaguaruana: Que outras composições que o senhor tem?
Maestro Eduardo: Ah, tenho muitas. O pior tempo de minha vida compondo foi quando eu escrevia para diversos gêneros. Quando fazia composição de um certo estilo romântico não tive sucesso porque eu não gostava de sair, nunca bebia, não gostava de festa. Só ia para festas pra ganhar dinheiro. Aquilo não era meu estilo. Depois apareceram políticos, fiz muitas músicas pra política, tive muita raiva por causa disso. Também não pagavam, enganavam.
            Hoje eu componho com textos bíblicos. Ah, aí sim. Não contei mais, mas até onde contei passavam de 350 composições todas bíblicas. Por exemplo Coríntios 13 ou os evangelhos, pego o texto, componho a grade musical, faço o baixo, a melodia. Então hoje minha especialidade é compor textos bíblicos, sou muito feliz por fazer isso.
            Quando alguém precisa de uma mensagem, uma oração em uma determinada situação de sua vida, a bíblia tem aquela oração, onde está escrito aquilo que você precisa. Eu vou lá e canto aquilo pra você, de uma forma suave, você vai se sentir, naquele momento diferente. Hoje minha vida é essa. Talvez me perguntem ‘É crente?’ Sou crente em Jesus, como você é e tantos outros. Ando nas igrejas protestantes, católicas, vou na casa do crente, do que não é crente. Se tiver um doente, vou lá e levo a palavra do senhor. Esse é meu envolvimento com a música hoje.

Memórias de Jaguaruana: Essas composições, o senhor as tem apenas na cabeça ou estão registradas?

Maestro Eduardo: Boa pergunta. Nós maestros temos duas coisas que não podemos fazer e se fizermos fazemos errado. Primeiro, não se deve fazer paródia, pegar uma música e colocar uma letra em cima. Não fica bem para um profissional maestro. A segunda coisa quando se faz a nomenclatura musical.

Memórias de Jaguaruana: Então o senhor tem todas as partituras de suas composições?

Maestro Eduardo: Todas as partituras musicais de minhas composições tenho em casa, todas feitas com a cifra. Isso também é um trabalho de maestro, não é de qualquer pessoa.

Memórias de Jaguaruana: Maestro, uma curiosidade. Diante de tanto bombardeio de músicas, letras e melodias que ouvimos no rádio, na TV e o que a grande mídia nos mostra, qual é o seu gosto musical?

Maestro Eduardo: Eu não possuo nenhum aparelho de som lá em casa, exatamente pra não ouvir nada disso aí que você está se referindo. É uma poluição no ouvido da gente. Agora, por que faz sucesso? Se eu fosse mulher, todo dia estava com uma ação na justiça contra os compositores, pois tudo que escrevem é debochar da mulher, pra poder o povo comprar aquilo.
            Minha filha tem 12 anos, essa semana me chamou para mostrar uma música. Eu lhe disse que não posso dizer para não gostar [daquele tipo de música], mas posso dizer para gostar de coisa melhores.



Maestro Eduardo Alberto de Holanda, músico profissional pela Ordem do Músicos do Brasil.
Entrevista em 19.04.17.








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