Cultura da Rede
Essas
redes têm história: identidade e cultura nas redes de dormir de
Jaguaruana.
Entrevista
com a professora Dayane Jeisy de Oliveira, que em 2012, na sua
graduação em História pela UECE, escreveu a monografia com o tema
“Essas redes têm história: identidade e cultura nas redes de
dormir de Jaguaruana.”
O
que levou a pesquisar esse assunto?
O
que me levou a pesquisar, foi quando eu vim pela primeira vez aqui em
Jaguaruana, eu vi que em todo local tinha redes expostas, daí
resolvi pesquisar o porquê de Jaguaruana ser conhecida como terra da
rede. Era o objetivo maior identificar se esse título ainda
permanecia nos dias atuais ou não.
Logo
quando cheguei no município tinham lojas de redes expostas.
Inicialmente
eu tinha a curiosidade de saber quem foi o primeiro, sempre quis
saber o primeiro de tudo, quem tinha sido a primeira pessoa a
produzir rede e a partir desse momento dizer que agora Jaguaruana era
a terra da rede.
Mas
aí você cai no mito da origem que não tem como saber o princípio
de tudo quando a coisa surge e ganha esse renomeio, então o meu
objetivo passou de descobrir o início de tudo pra saber como que a
cidade via esse título já que não havia nenhum museu, nenhuma
exposição só a produção.
Então
eu vim com o intuito de se era só por questão econômica ou se
fazia realmente parte da história, e descobri que tem um pouco de
tudo. Na monografia percebi que muitas das situações era econômica,
que a crise da produção de redes tá perdendo esse renomeio é
questão econômica e que até os artesãos com quem conversei citam
essas situações de não produzirem mais por causa das dificuldades.
É que pra produzir uma rede você tem muito gasto, ás vezes não
tem o retorno desse lucro.
Muitos
artesãos quando eu entrevistei disseram que não era isso que
queriam para os seus filhos, ressaltam que Jaguaruana sim tem o
título de terra da rede mais por questão financeira, só cresceu
porque a produção principal daqui era a produção de rede, até
chegar o momento de ter a competição com a Paraíba, o que também
fez a produção decair muito aqui.
Que
importância você dá a esse fenômeno?
Eu
creio que a importância deve ser ressaltada. Não vejo muito no
município esse ressalve para a importância de tudo, deixar
registrado na forma de museu ou na forma de alguma exposição,
alguma coisa que deixe marcado que em Jaguaruana tem esse título. Em
nenhum outro local aqui no vale você vai ter a produção de rede,
nós temos as produções de rede aqui, e as doceiras do Córrego de
Areia, que é a produção de potes de barro, que é uma marca de lá.
Então
eu creio que a importância ainda deve ser registrada e que se tiver
como ser renomado algo que seja visto, visitado, que os jovens hoje
em dia possam conhecer a história do próprio município, que não
fique como se fosse a terra da rede, e digamos agora é do camarão e
daqui a um tempo Jaguaruana seja de outra coisa.
Eu
acho importante que seja realizado alguma atividade que ressalte essa
história, eu penso muito no museu, como criaram o Memorial da
Carnaúba, mas o foco principal, rede, não é ressaltado.
Pensando
na monografia e nessa importância, eu resolvi trabalhar no segundo
ano atividades que mostram a importância (da cultura da rede), então
o primeiro ato foi criar um site, que é um museu online onde pode
ser mostrado o modelo de produção, os tipos de rede, e alguma
curiosidade de Jaguaruana. O segundo passo, que é o dicionário
contendo palavras que são conhecidas entre os artesãos, e que
muitas vezes, os jovens escutam e não sabem o significado.
Então
a ideia seria ter um dicionário para se colocar na biblioteca, na
escola... Tinha também, o fato de trabalhar e colocar no Ensino
Fundamental como história local e que as crianças logo conheçam a
história, e que futuramente venham mais ideias.
Como
as pessoas veem a cultura da rede em Jaguaruana?
Pude
verificar que elas veem dois aspectos: essa cultura da rede como
complemento de renda, em muitos casos, tipo “eu utilizo a rede pra
complementar a minha renda, mas não quero que o meu filho siga o
mesmo passo eu. Continuo com a rede pra que ele possa ter um estudo e
saia de Jaguaruana”, como eu escutei nas entrevistas. O outro
aspecto é ter o lado da identidade, de ser algo que caracteriza o
município.
Como
foi feita a sua pesquisa? Qual a sua metodologia?
Quando
eu vim a Jaguaruana e delimitei a minha pesquisa, parti para as
entrevistas até porque minha monografia não dava pra ser feita com
textos, porque não tem no município. O que temos são gráficos do
IBGE, são sensos, temos um livro que conta, mas é desde a história
de quando Jaguaruana ainda se chamava de União, os nomes antigos até
se tornar Jaguaruana e fala da produção de redes, mas fala só que
era a principal economia do município e pronto, não tem mais nada
relacionado.
A
metodologia foram as entrevistas, a oralidade foi a única fonte que
eu tive, e a partir das entrevistas, eu sai separando os dados, o que
se pensava, e o porquê de eles não querem que os filhos participem
do processo de produção ou continuem como uma herança de pai pra
filho.
Claro
que também é necessário pontuar que eu conversei com artesãos que
tem as fábricas de fundo de quintal, não fui nas fábricas grandes
em Jaguaruana.
Talvez
se eu tivesse ido numa fábrica, não haveria escutado essa questão
econômica. Como eu falei com pessoas que produzem na própria casa,
fica difícil por que as vezes os equipamentos não são mais
avançados, aí não dá pra ter uma máquina que se avança com o
tempo, que não tem como comprar.
E
também como metodologia foram as fotos, tanto a oralidade como a
imagem eu prezei que na monografia tivesse foto para mostrar a
produção. A primeira parte é a divisão em forma de linha
cronológica, então inicialmente eu fiz uma introdução contando a
história de Jaguaruana, depois eu parti pra mostrar o processo de
produção e qual era a visão da população e dos artesãos e o
último passo foi falar da cultura se permanece. Se não? O quê que
mudou? O que que interfere? Se poderia perder o título de terra da
rede que na época muito se falavam que não e atualmente a gente
houve se falar que Jaguaruana não é mais a terra da rede então a
gente percebe que essa de marca de município se dá pela economia,
pelo que tá em auge no período, é o que demarca a situação.
Após
sua pesquisa, que reflexões você faz? Quais as memórias que a rede
pode deixar?
As
reflexões que eu faço é que se tenha uma maior valorização de
que merece uma maior divulgação, até mesmo pra que as novas
gerações saibam um pouco da história da sua cidade do município.
Também
faço muito essas reflexões no sentido que já comentei que é algo
que marque essa cidade, que não fique só no falar de um pra outro,
mas que tenha algo que quando entre no município ele registre que
conte um pouco da história, das modificações.
As
memórias são diversas desde o início da produção de forma manual
de trabalho muito grande para se produzir um número x de redes. Tem
como deixar como memória a transição de ser tanto histórica
quanto pela questão de ser mecanizado e fora mesmo os retratos, as
imagens dos interiores no final de tarde, ter uma pessoa na calçada
pra fazer varanda, bordar... Às vezes numa roda de conversa você tá
ali produzindo a rede pro seu sustento, de ter essa tradição, essa
questão de ter a ligação essa interação uma amizade talvez.
Vi
também na época a mambucaba ser feita em casa, tinha um negócio de
puxar corda fazer um trancelim, o carel. Vi uma que tinha uma
agilidade muito grande que fazia grade ou trança, tem a rede de
grade a rede de trança com uma agilidade uma destreza. Sabem bordar
uma flor linda feita a mão e se for pega esses artesões e pedir pra
eles contarem tem muita história que eles podem contar de época
difíceis ou épocas boas.
Antigamente
era muito difícil alguém não saber fazer rede o pai fazia, a mãe,
sempre deixando passar para o filho como forma de ajudar na renda,
antes era muito forte famílias vizinhança todos tinham essa
prática.
Atualmente,
eu acho que justamente por isso pela valorização, por que tem muita
gente que coloca como se não fosse uma profissão digna, porque
nenhuma mãe quer o que o seu filho vá para um fábrica pra produzir
rede, quer algo maior, acho que todas as comunidades criam esse
conceito.
Dayane Jeisy de Oliveira é licenciada em História pela UECE em 2012
e professora desta disciplina há 4 anos.
Processo de fabricação de "fundo de quintal" como se chama em Jaguaruana
Fotos do acervo da pesquisadora professora Dayane Jeisy de Oliveira
0 comentários