O professor José
Wilson Freitas nos conta sobre o Mestre Gerardinho
Professor José Wilson: A princípio, o que eu aprendi sobre o mestre
Gerardinho ou ‘padrinho’ Gerardo, como era chamado, é que ele foi um dos
primeiros professores de Jaguaruana. Ele educou do ano de 1909 até o ano de
1953, no começo do século. Isso eu peguei do histórico da Escola Correia Lima e
algumas pessoas veteranas como a dona Filó que faleceu me parece que ano
passado com 103 anos. A dona Filó me disse que o mestre Gerardo ensinou muito
tempo na casa dele, muitas pessoas passaram pelas mãos dele e que naquela época
era uma escola na casa do professor. Nessa época não existia o Manuel Sátiro
que é a escola mais antiga e por muito tempo ele educou aqui em Jaguaruana.
Depois
com muito tempo nessa minha pesquisa eu pude saber que a casa onde ele morava é
justamente a casa da dona Neném, mãe do Carlos Alberto, ali na rua Padre Rocha.
Quando eu trabalhava no serviço de emergência, cheguei a entrar naquela casa e
a dona Neném me mostrou o local onde ele ensinava, um vão separado da casa.
Hoje a casa ainda está do mesmo jeito.
Com
um tempo ele adoeceu e foi para casa de familiares em Fortaleza e lá ele
morreu. Depois de muito tempo, como se fosse uma homenagem para ele, seus
restos mortais foram transladados de Fortaleza para cá. Até hoje ainda tem o
túmulo dele no cemitério Santana.
Memórias de Jaguaruana: Conte-nos sobre a Escola Correia Lima.
Professor José Wilson: A Escola Correia Lima não foi construída em
uma gestão só. Ela começou na gestão do prefeito Manezinho Barbosa, passou pela
gestão do prefeito Raimundo Francisco e por último foi a gestão do Zé Augusto
de Almeida. Aos poucos, essa escola vem sendo construída há muito tempo, quem
primeiro batizou com o nome Escola de Ensino Fundamental Gerardo Correia Lima
foi o prefeito Manoel Barbosa Rodrigues. Ela cresceu muito porque a princípio
não havia tantas escolas para abrigar esse povo, tinha o Manuel Sátiro, por
último o Cônego Agostinho, o antigo Maria Tomázia e foi construído o Correia
Lima justamente para suprir essa demanda de alunos que precisavam estudar. Eu
fui diretor de lá por nove anos e o máximo que ela chegou a atender como nível
fundamental foi mais ou menos 1800 alunos nos três turnos.
Memórias de Jaguaruana: José Wilson, os nove anos de seu mandato
foram consecutivos?
Professor José Wilson: Sim, foram consecutivos. Eu comecei em 2000
exatamente na segunda e na terceira gestão do Zé Augusto de Almeida e saí de lá
na gestão do Bebeto para assumir outra escola, a Monsenhor Aloísio no Tabuleiro
onde eu fiquei por 4 anos.
Memórias de Jaguaruana: José Wilson, tem uma placa na frente do
Correia Lima mostrando o ano da fundação. Ela já começou grande assim? Você
falou que foram três etapas, como assim?
Professor José Wilson: A primeira etapa construída na gestão do
Manezinho é justamente aquela parte da frente que tem a placa ‘Ginásio
Municipal Gerardo Correia Lima’, com oito salas de aula. Em seguida foi o
Raimundo Francisco que construiu a quadra e mais dois blocos lá atrás. E por
último foi o Zé Augusto que construiu aquele prédio que tem térreo e primeiro
andar.
Memórias de Jaguaruana: Voltando para o professor Gerardo. Ele era
de Jaguaruna mesmo?
Professor José Wilson: Não sei te dizer.
Memórias de Jaguaruana: Você consegue dizer qual disciplina ele
ensinava ou naquela época nem tinha esse negócio?
Memórias de Jaguaruana: Não. Assim, no princípio Jaguaruana só
tinha do primeiro ao quarto ano ou série, não sei como chamavam na época.
Segundo alguns professores que me falavam era assim: alunos que terminavam o
quarto ano, se as famílias tivessem poder aquisitivo, ou levavam os meninos
para Aracati ou estudar na Unecim em Russas e para a maioria dos jovens, a sua
vida estudantil terminava exatamente no quarto ano.
Depois foi
construído o Manuel Sátiro. Antes dele o que tínhamos era ‘escolas’ na casa dos
professores que eram até chamadas de ‘escolas reunidas’, segundo a dona Cleonice que já me falou isso, a
própria Maria das Chagas que era uma escola vizinha a fábrica do Dedé Jaguaribe aqui também na Padre Rocha tinha a escola da Ana Coelho
que é onde hoje é o Cartório do Tiquinha, a escola do mestre Gerardinho que não
alcancei, mas era uma escola que eu não
alcancei, mas era ali na Padre Rocha. A Maria da Bilinha também tinha uma
escola na casa dela. Depois foi construído o Manuel Sátiro com ajuda do governo
que foi a primeira escola realmente onde era uma escola um tanto elitizada quem
estudava no Manuel Sátiro, mesmo com toda a pobreza, mas os alunos tinham que
ter o uniforme do dia-a-dia e tinha uma farda chamada farda de gala. Essa farda
de gala era pra sepultamentos, festa, inaugurações e que todo mundo também,
apesar da pobreza, ia bem uniformizado.
Com o tempo
foi construído o Centro Educacional Cônego Agostinho fundando o ginasial que lá
eu sei que mas ou menos do primeiro ao quarto ano e o Cônego Agostinho
seria do quinto ao oitavo ano. Na história
da educação assim era tão rígida a escola na época, elitizada e
ao mesmo tempo até repressora por que
ninguém tinha acesso a educação. E pra gente ingressar no Cônego Agostinho você teria que fazer um
exame de admissão. Eu tenho um livro desse nos meus guardados era um livro de
admissão que você tinha que estudar aquelas matérias principais história,
geografia, ciências, português e matemática e que você tinha que decorar. Pra
você ingressar no Cônego Agostinho era um verdadeiro vestibular depois que o exame de admissão foi abolido
agente entrava na escola quem tinha as melhores notas.
Depois do Manuel Sátiro foi construído o Maria
Thomasia, que hoje se chama Edith Moreira Barreto, nos anos de 1970, chamado de Grupo Escolar Maria Thomasia. Eu
comecei a estudar no Manuel Sátiro e naquela época eu sai da escola da Maria
das Chagas e eu estudava nessa cartilha do ABC que eu passava todo ano só que
não ia a lugar algum.
Ai quando foi
um dia Francisco, meu irmão, disse olha eu também estou estudando
a cartilha do ABC quando agente saiu do ABC agente já sabia ler. Francisco foi para o Manuel
Sátiro, ele mesmo foi procurar um lugar para se matricular no Manuel Sátiro e quando ele se matriculou logo em seguida eu
fui também, pra você ver agente já decidia as coisas por si só. Daí eu fui me
matricular no Manuel Sátiro, lá já tinha
a preparação de uma turma por que a escola Maria Thomasia já estava sendo
construída pra quando ela fosse concluída agente entrasse no Grupo Escolar
Maria Thomasia. Então esta escola foi construída mas ou menos nos anos 70 e
agente foi a primeira turma do Maria Thomasia.
Fonte: Professor José Wilson Freitas, formado
em Letras pela UECE,
especialista em Planejamento Educacional e Gestão Escolar.
Está na profissão há 32 anos e foi diretor escolar desta escola por 9 anos.
* 25/11/1952 +18/02/2017
Quem foi Raimundo Francisco Freitas Jaguaribe?
Quem conheceu bem Raimundo Francisco Jaguaribe talvez
responda a essa pergunta dizendo que maior virtude foi a magnanimidade:a disponibilidade
para o outro, a capacidade de desfazer-se de um bem em beneficio daquele que,ao
seu lado, sofre necessidade. Sem dúvida,
foi com essa, porém com muitas outras virtudes que Raimundo Jaguaribe pintou a
aquarela de sua vida.
Há,realmente, outras
qualidades que fizeram uma pessoa singular .E gostaria de adiantar que, para
mim, uma pessoa singular- por mais paradoxal que a ideia possa parecer- não é
aquela que traz dentro de si uma qualidade que a diferencia das outras pessoas.
É a quela que reúne qualidades diversas,
de modo que seu interior se constitui como uma espécie de conjunto universo, ou
conjunto que reúne uma variedade de elementos diferentes , que correspondem ás
qualidades com que foi agraciado. Pois de que adianta alguém ter dentro de si
disponibilidade para ajudar os outros, se traz junto a essa disponibilidade o
orgulho?
De que adianta alguém se mostrar religioso, assíduo
frequentador da casa de Deus, onde ajoelhando recita o Pai Nosso - perdoai
as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido – e deixa o
templo com o propósito de cobrar com usura o que lhe deve? Ou abordar essas
pessoas com desrespeito moral?
Pois Raimundo Francisco Jaguaribe caminhou, pela vida,
carregando as virtudes de um cristão, mesmo sendo um agnóstico, isto é, alguém
que está sempre em estado de dúvida, quando o assunto são os problemas
propostos pela metafísica ou pela religião, e envolve a existência de Deus, o
sentido da vida e do universo.
Meu irmão foi um homem de paz, um cidadão que cumpriu
seus deveres, suas obrigações, principalmente em relação ao compromisso
político que assumiu com o povo de Jaguaruana. Nunca se aproveitou do dinheiro
público para enriquecimento. Jamais se esqueceu de uma cidade, um estado, um
país são feitos, são construídos com atenção votada para as crianças e para os
jovens.
Jamais deixou de acreditar na força transformadora da
educação- com a valorização da arte ( criando a escola de Música Edite Moreira
Barreto e a Banda de Música Maestro Raimundo Correia);o incentivo ao esporte
promovendo campeonato intermunicipais e levando a efeito outra atividades
correlatas); o amor á literatura (criado a Biblioteca Municipal). Isso sem
falar nas creches construídas e nas escolas reformadas.
Raimundo Jaguaribe era um intelectual:com formação
acadêmica em Filosofia, lia com entusiasmo e atenção as obras de Santo
Agostinho , e comentava com desenvoltura confissões”. Tinha predileção pela
literatura brasileira moderna, em especial, por Clarice Lispector. Também
admirava o conto atual, no que tem de breve, concisp, lacônico.
Excelente contador de histórias, tinha a capacidade de
envolver os ouvintes com narrativas que misturava o cômico com o sério; o
lírico com o real e o ficcional. Deve ter feito incursões pela poesia, pois nos
deixou um pequeno poema dedicado a uma de nossa tias paternas- Sinhazinhas
Jaguaribe – quando tinham seus 90 anos:
Vida Longa Tem Receita?
Raimundo Francisco Jaguaribe
Vida longa tem receita?
-Revela,
Sinhá, a receita
Da
vida longa pra nós.
-Reveles, não, Sinhazinha!
Melhor é guardar, guardadinha.
Guarda em sigilo, contigo,
Para que ela valendo,
por muitos anos, ainda,
Possa te fazer ir vivendo
Uma vida quase
infinda.
A receita, se tu tens,
Não digas, Sinhá, pra ninguém
Mas quero salientar
que não é com orgulho, prepotência, soberba ou amor-próprio, que, neste
momento, as qualidades de seu irão, em especial as relacionadas com a gestão
pública. Não. Estou aqui acredito que as
novas gerações têm o direito de conhecer o passado, seus governantes atuais e
os que vieram antes, para aprender a escolher. Para não se deixar enganar por
quem foi capaz de destruir um trabalho que, se continuado, teria dado outro tom
a nossa cidade. E as gerações mais velhas têm a obrigação de não deixar, por
falta de informação, morrer esse passado.
Vicência Jaguaribe
Faleceu em 10 de agosto de 2016 aos 89 anos de idade no Hospital São Raimundo. Prefeitos por três vezes...
Ivonete Maia
Ícone do jornalismo brasileiro. Maria Ivonete Maia,
escritora, educadora, jornalista e sindicalista de sua categoria. Era natural
de Jaguaruana. Filha de Francisco Carlos Maia e Maria Estelita de Carvalho
Maia. Neta, pelo lado materno de Francisco de Assis Moreira de Souza (Chico
Severino) e Ana Augusta Moreira de Carvalho, bisneta de Jose Moreira de Souza e
Rosenda Caminha, trineta de Severino Moreira de Souza e Florinda Candida de
Souza (Mello) e tetra neta de André Moreira de Souza e Joana Maria de Jesus
(Carvalho Nolasco).